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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O que deu em mim pra ser artista?

Sou artista. E o que deu em mim para querer ser artista aqui no Brasil? Também não sei se em outros países seria tão diferente assim... mas que tipo de artista eu sou? Não. Não sou cantora nem de música sertaneja, nem de axé. Também não "toco" em raves. Não. Nunca fiz uma novela na Globo.Também não sou uma cantora pop famosa. Bem... está difícil, então! Ah! Sou bailarina. Do teatro Municipal do Rio? Não. De alguma cia estatal? Não. Ah. Do Corpo? Não. Débora Colker. Não. Ficou difícil mesmo! Será que existo?
Trabalho na Cia Mário Nascimento e paralelamente começo a desenvolver minha carreira como artista independente. Coitada. Será que agora irei pertencer àqueles artistas independentes que vivem com olheiras, um ar cançado e um quê de desilusão no fundo do olho? Se for depender das leis, burocracia e mercado, sim! E porque continuo fazendo isso? Boa pergunta! Não me avisaram que seria tão difícil... talvez alguém tenha tentado mas não acreditei... agora acredito. Agora entendo a disputa, as intrigas, conchavos, "puxa-saquismo"... é tudo difícil demais.
Engraçado... talvez o público não tenha idéia do que é colocar um espetáculo em pé com pouco dinheiro... e é o que a maioria dos artistas fazem! Estão todos lutando pra sobreviver! É uma guerra pra ver quem será convidado pra qual festival! Claro! É nos festivais que se tem público, cachê, estrutura... é uma guerra pra ver quem será aprovado em qual edital e quem tem contato com qual empresa! Entendo tudo... nosso doce capitalismo selvagem... os artistas não podem contar com as leis... elas matam a arte... Elas matam a criatividade... Elas sufocam o canal criativo...elas sugam a seiva dos artistas até a última gota... como ser artista, empresário e produtor ao mesmo tempo? São talentos e funções tão diferentes... mas como ter dinheiro pra pagar empresários e produtores competentes, se as leis não te dão dinheiro suficiente pra isso? Conheço mais o mercado de dança e a dança está sufocada. Sem chance. O que faremos daqui pra frente? Como manter um grupo? Como manter um elenco? Como manter um trabalho ano após ano? Como sustentar um ideal? E como sustentar um filho?
Artistas querem ser livres... precisam ser livres... mas estamos presos em editais duros e rígidos. Somos escravos das leis... como advinhar qual será sua criação daqui um ou dois anos? Como enlatar seu tempo de processo criativo no tempo da prestação de contas? Será que existe algum cursinho do tipo pré-vestibular que ensine como ser um artista de edital? E porque temos que ter um estréia anual? Porque os trabalhos desvalorizam depois de terem tido sua estréia? Eles não são carros!!! Pelo contrário, são como vinhos! As obras amadurecem com o tempo! E que loucura surreal é essa de estréia, estréia, estréia?! Quem inventou essa moda idiota???? ARTE. Estou falando de ARTE. Será que quem criou as leis entende de arte? Provavelmente não. Hoje vale a lei da quantidade, não da qualidade. O que faz do artista ser quem é, é justamente sua conexão com algo maior, com a força criativa da vida, sua inquietação, sua necessidade de mudar, de fazer diferente, questionar, libertar, alertar, instigar, harmonizar ou desarmonizar... O artista é aquele que ousa, que se expõe em prol de algo maior... nós artistas estamos a serviço da ARTE. Se as leis dos homens não nos protegem, que as Leis dos Anjos da ARTE estejam do nosso lado... que possamos ouvir seu sussurro em nossos ouvidos nos trazendo coragem, dignidade... nos unindo uns aos outros para caminharmos juntos e não em disputa... que o sussurro dos Anjos da ARTE nos inspirem nossas criações. Que sejamos leais à ARTE. E que por mais difícil que seja, continuemos em frente. Que os Anjos abram nossos caminhos e nos digam que vale à pena sim. Que eles nos lembrem de valores maiores, límpidos... que nos lembrem que devemos ser fiéis à nossa essência, à nossa alma. Que os Anjos da ARTE nos lembrem quem somos e pra que viemos.
Eu sou artista. Foi um Anjo que me lembrou disso.

Rosa Antuña