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terça-feira, 17 de abril de 2012

Memórias... Dessau, Alemanha

São 10:15hs. Acabo de acordar. Perdi o café da manhã de novo. Aliás, até agora nesta tournée, foram raras as vezes em que consegui acordar a tempo de tomar o café da manhã! Sou muito lenta pela manhã e gosto de dormir até mais tarde sempre que posso. É o que mais me recupera.

Mas hoje acordei com uma angústia e um silêncio dentro de mim. Eles são meus velhos conhecidos... E essa sensação no meu peito me lembrou Dessau, na Alemanha.

Em 1996, eu tinha 19 anos, estudava na Palucca Schule Dresden. Uma bailarina da Cia de Dessau se machucou e me mandaram para lá para aprender um ballet em uma semana e dançar. Era um trabalho infantil. Não me lembro do nome do coreógrafo, nem sei como escreve o nome da coreografia. Quando voltar a Belo Horizonte, em 26 de maio, confiro isso nas minhas coisas.
Bem, peguei o trem e lá fui eu sozinha para Dessau. Não era muito longe de Dresden. Umas duas horas talvez. A cidade era cinza e marrom. Construções em blocos pesados. Parecia que a cidade estava emburrada com alguma coisa... acho que a cidade ficou profundamente emburrada depois da segunda guerra... Olhei para o céu, procurando ver a cor azul, mas ela tinha saído. E em seu lugar estava uma austera cor cinza que dizia para mim: "o que você esperava?". Desculpei-me com a senhora cor cinza, disse que não esperava nada, estava só com os olhos perdidos, meio sem ponto fixo... não sei se ela acreditou.

Fui encaminhada para o hotel do teatro. Naquele tom marron e cinza. Mas arrumadinho, confortável. naquela época não tinha celular, nem internet, nem skype, facebook... Era telefone fixo.
Arrumei minhas coisas, tomei banho, não me lembro se jantei, nem como. E então me dei conta que havia esquecido meu despertador!!! Entrei em desespero! Justo eu que acordo tarde! Tinha que acordar às 8:00hs da manhã! Como eu ia fazer? Saí pela cidade para tentar comprar um, mas tudo já estava fechado. A noite escura me repreendeu: "O que você pensa que está fazendo, menina? Aqui ninguém fica na ru à noite! Volte para casa e durma." Pensei : "Nossa, que noite mais alemã..." E a lua nem estava lá para me defender, pois se ela estivesse, aquela noite madrasta iria ouvir poucas e boas!

Resultado, dormi com um olho fechado e o outro aberto! Deixei a cortina aberta para que eu visse assim que o sol surgisse. E ele surgia meio fraquinho... estava precisando de vitaminas. Levantei quando ele raiou, me arrumei, fui em busca de um relógio despertador e fui para o teatro ensaiar, depois daquela noite tensa e mau dormida.
Na coreografia eu fazia o papel de uma boneca Barbie! Na época não soube avaliar se era bom, ruim, moderno, cafona... fui lá, aprendi, dancei, recebi e fui embora. Nada mais.

Nessa semana que passei em Dessau, lembro-me também de um dia em que fui até uma típica cabine telefônica (dessas que Clark Kent vira Super-Homem) e liguei para o Brasil para falar com minha mãe. Liguei à cobrar. Caiu primeiro na telefonista brasileira. Eu estava me sentindo tão profundamente só, que comecei a conversar com ela mesmo. E ela me ouviu e foi muito gentil. Comecei a chorar dizendo que estava com saudades do Brasil, que estava muito sozinha... e ela me ouviu, me deu força, disse que outros brasileiros fora do país sentiam a mesma coisa... E hoje vejo o quanto isso foi lindo! Agradeço a ela do fundo do meu coração por aquele momento!

Porque me lembrei dessa história hoje?
Ah! Acho que foi porque acordei com uma angústia e um silêncio... e eu sentia isso o tempo todo quando estava em Dessau. Mas ao abrir a cortina do meu quarto, aqui em Caruaru, vejo um sol lindo e um céu azul sorridente, me convidando para dar uma voltinha lá fora.

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