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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

4 - Apuros em Berlim

Bem, após a residência artística no Odin fui pra Londres passar natal com meu querido amigo Giovanni Ferrari. E no ano novo fui pra Berlim.
 Pois é. Foi aí. Foi aí que complicou tudo. Cheguei sozinha em Berlim dia 29 de dezembro de 2014 às 23:00hs. Fazia 6 graus negativos. Muita neve. Minhas amigas foram antes para lá e estavam me esperando no apartamento que alugamos.

Chego no aeroporto. Entro no ônibus. O ônibus para em Alexander Platz, em frente à estação de metrô. Desço. Dou alguns passos. Percebo que a minha bolsa verde não estava mais comigo. Um instante de profundo desespero. Outro instante de negação da realidade e no terceiro instante nasce em mim a necessidade urgente de solucionar o problema.

Voltei até o ponto de ônibus e tentei pegar um taxi e dizer a ele "siga aquele ônibus!"; mas não deu certo... primeiro porque não me comuniquei bem em alemão (morei em Dresden de 96 a 98, precisaria de um tempo pra resgatar o idioma perdido nos meus recônditos cerebrais que hoje apenas armazenam informações sobre projetos de Lei de Incentivo e editais e datas e quanto está faltando de dinheiro).
Fui então para o ponto de ônibus em frente e consegui dizer para o motorista que eu havia esquecido minha bolsa verde no outro ônibus. Ele deu um aviso pelo microfone em todos os ônibus. E responderam que nada foi encontrado. Agradeci. Desolada. Fui caminhando em direção ao metrô. Na neve. Menos 6 graus. Arrastando uma mala.

Sensação de impotência! Isso merece um parágrafo à parte, sem sombra de dúvida! Pois ali, naquele momento, pude corporificar, pude sentir plenamente, pude viver uma situação bem didática que demonstrava claramente o que é uma situação de impotência. Eu sabia que minha bolsa estava no ônibus. Sabia que o Ônibus estava indo para a garagem. Mas eu mal falava o idioma, não tinha nenhum documento(nem o passaporte), não tinha nem um centavo, nem um cartão de crédito, nem o celular, nem o tablet, nem minha agenda (com o endereço do apartamento onde eu ficaria hospedada) e nem uma barra de chocolate. Eu ali não era ninguém. Sem dinheiro, eu não tinha direito a nada. Fui reduzida instantaneamente a um floco de neve (isso porque eu estava na Alemanha, pois se eu estivesse no Brasil teria sido reduzida instantaneamente a uma bolota de merda).

Fui até a estação de metrô. E em vão tentei falar com um rapaz que trabalhava lá... mas ele apenas me disse onde era a polícia. Já era quase meia-noite. O movimento de pessoas nas ruas já havia reduzido bastante. Saí perambulando à procura da polícia. Não encontrei. É claro que Pai Benedito e todos os meus mentores estavam comigo e não me esqueci disso nem um momento. Passei em frente a um bar e havia um rapazinho simpático. Perguntei a ele onde era a polícia. Ele era argentino e pudemos falar em espanhol. Ele achou estranho e me perguntou para que eu queria ir na polícia. Ali não aguentei mais e abri a boca a chorar! Contei tudo. O que mais me afligia é que eu não tinha o endereço para onde eu deveria ir e as meninas tinham me dito que onde elas estavam estava sem internet!!!!! Bem, ele me chamou para entrar no bar, me pagou uma água e deixou que eu usasse a internet do celular dele. No meu facebook tinha inbox o endereço para onde eu deveria ir. E consegui pedir que amigos avisassem meus pais para cancelar meus cartões de crédito. O Lucas (o argentino) foi comigo até a polícia mas me mandaram esperar até o outro dia e me deram um telefone de achados e perdidos para eu ficar ligando. O Lucas foi extremamente gentil e atencioso e foi quem também me ajudou a pegar o taxi para o ap. Chegando no apartamento subi e pedi para a Duda pagar o taxi para mim.

Passei mal a noite inteira. Não conseguia acreditar que eu tinha esquecida minha bolsa verde com todo meu dinheiro e passaporte e tablet e celular e agenda e chocolate no ônibus em Berlim.

foto : Duda Las Casas

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