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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Você já engravidou?

Estava aqui pensando... A internet se tornou uma grande armadilha, né? Seja qual for a opinião que tenhamos sobre qualquer tema, sempre encontraremos quem endosse o que acreditamos. As pessoas apenas gritam palavras de ordem. Parecem vários grupos de robôs programados, com chips de controle. Tenho uma sensação de uma profunda falta de identidade nos indivíduos. Uma confusão quanto ao que pensar... como pensar... o que dizer... Por outro lado, também aparece na internet uma necessidade muito grande de cada um dar sua opinião. Poucos diálogos e muitos monólogos. As pessoas têm se ocupado muito em ficar dando opiniões por aí. A vida do outro tem sido mais importante do que a própria vida. A internet se tornou um universo de futrica, controle, censura, inveja, dor de cotovelo, intolerância e culto ao ódio. Tá chato isso.
Fui pesquisar sobre aborto. Existe de tudo sobre o assunto. Sites verdadeiros e falsos. Estatísticas verdadeiras e falsas. Mas cada um vai acreditar no site que endossar a sua crença. Portanto não perderei meu tempo colocando estatísticas aqui.
Por isso o que escrevo aqui não é baseado em site algum. Nem é fundamentado no pensamento de ninguém. Não citarei livros.
Sou apenas uma mulher brasileira de 41 anos. Tenho inúmeras amigas. Gosto de conversar com pessoas. Observo tudo à minha volta. Sempre pondero sobre o que ouço por aí. Tento entender o ponto de vista do outro. A estrutura que leva o outro a determinado pensamento, atitude, comportamento. Não sou perfeita. Ainda bem. Tampouco sou modelo de nada. Mas gosto de pensar por mim mesma. Na verdade, é dentro da minha cabeça onde encontro liberdade. E é em nome dessa liberdade de pensamento que trago essa reflexão que pode ou não trazer algo que some para um pensamento maior do que eu.
Você já engravidou? E ao engravidar sentiu desesperadamente que não queria ter filho? Que não tinha vocação nenhuma para ser mãe? Ou que não queria ter pela sua carreira, ou idade, ou condição financeira, ou porque já tinha filhos, ou porque o pai não seria legal, ou porque o pai seria péssimo, ou porque você não queria ser mãe-solo, ou porque você não queria ter um vínculo para vida toda com esse homem, ou porque você se arrependeu mesmo, ou por você simplesmente se sentir mal com isso, ou por você ter medo de morrer no parto, ou por você ter pavor de pensar em como seu corpo vai ficar, ou por você não querer ser abandonada, ou por você não querer ser julgada ou outro motivo?
Então se você nunca engravidou (isso vale para homens e mulheres) e nunca sentiu nada do que coloquei acima, procure fazer de conta que é com você. Imagine que você engravidou. Escolha alguns desses sentimentos e sensações que sugeri. Se coloque no lugar da outra.
A mulher e o homem poderiam ter evitado. Mas não foi evitado. Agora já aconteceu.
A verdade é que não existe Lei dos Homens e nem Lei de Deus que impeça uma mulher que tem alguma dessas sensações que descrevi, de interromper sua gravidez. É algo profundo demais para ser julgado com tanta facilidade. E a força que move uma mulher a interromper uma gravidez indesejada é irredutível. A diferença é que mulheres com dinheiro farão um aborto seguro, podem até ir para países onde ele é legalizado, mas as mulheres sem dinheiro correrão sérios riscos de vida. Existem muitas mortes. Vejo isso como um caso de saúde pública.
Este é outro ponto. Na questão do aborto entram as crenças religiosas. Mas devemos lembrar que as crenças das pessoas são muito diferentes umas das outras. Não temos o direito de impor nada para ninguém. Portanto, se você não concorda com aborto, não o faça, mas uma outra mulher que não tem as mesmas crenças que você, tem o direito de fazê-lo com segurança. Inclusive com apoio psicológico. Inclusive com acompanhamento após o aborto. E orientação e apoio nos métodos contraceptivos que essa mulher vai usar daqui para frente.
Volto a dizer que meu ponto de vista aqui, é de saúde pública. E é de liberdade de escolha. É de segurança para a mulher.
Só peço para que, se você teve paciência de ler este texto até aqui, reflita. Não grite. Não precisa sair respondendo palavras de ordem, ou repetindo o que você já leu por aí. Qual a sua conclusão sobre isso? Pensando de forma coletiva. Pensando que nossa sociedade traz pessoas muito diferentes umas das outras. Pense em silêncio. Não tenha uma resposta rápida. Espere. Reflita mais um pouco. Em silêncio. E então, quem sabe, você chegará a alguma conclusão original?
Penso, logo sou mulher.
Sou mulher, logo existo.

Foto: Duda Las Casas - espetáculo "Mulher Selvagem"

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