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sábado, 22 de setembro de 2018

A Todas as Mulheres do Mundo


Em 2009 fiz este texto. Ele foi usado na peça que escrevi e estreou em 2011 "De perfumes e Sonhos". Estou trabalhando na releitura da peça para trazê-la de volta ano que vem. Aí vai o texto escrito há 9 anos atrás:

O que poderíamos dizer?
O que deveríamos lembrar?
O que seria imprescindível ressaltar?

Para todas as mulheres do mundo:

Estamos juntas. Somos muitas. Somos um grande exército de Amazonas.

E se todas nós, em uníssono gritássemos? E se todas nós, juntas, berrássemos?
Por nossos filhos, por nós mesmas, por nossa liberdade.
Por nosso direito ao prazer, por nosso direito de existir.
E se todas nós, juntas, em todo o mundo fizéssemos uma greve geral e não fizéssemos mais sexo? - com homens.
Não cozinhássemos para eles, nem lavássemos suas roupas, nem arrumássemos a casa, nem os elogiássemos. E se parássemos de dar a eles nossas ideias brilhantes e conselhos sensatos e sensíveis?
E se nós nos uníssemos para nos ajudar? E se compreendêssemos que a dor de uma é a dor de todas? E que o mal contra uma é um mal contra todas? E se criássemos entre nós um código de honra? O que eles fariam?
E se nós nos preparássemos e fizéssemos nossas próprias bombas nucleares? E se nós declarássemos guerra contra eles e os massacrássemos? E se nós os explodíssemos, deixando apenas alguns espécimes para reprodução?
- Se bem que com nossas cientistas, poderíamos criar nossos bebês in vitro e educá-los de outra forma... Se bem que precisaríamos educar a todas nós de outra forma!

A mulher foi massacrada por valores impostos pelos homens. Foi sedada por seus hormônios de lactação por muitos séculos parindo filhos e filhas - tiranos e vítimas. Foi tolhida e literalmente castrada. Perdeu seu direito de expressão. Seu direito de opinião. Aquelas que se expressavam eram condenadas, estupradas, espancadas, queimadas, enforcadas, torturadas, apedrejadas.
Talvez por isso muitas de nós tenhamos esquecido nossa própria identidade. Nosso valor. E tenhamos nos identificado com o papel de vítima, dependente, frágil, incapaz.

Mas mulher é sinônimo de expressão, criação e criatividade. O feminino tece sua própria história alinhavando os fios da vida... Alinhavando os tecidos de amor e afeto...  Ser mulher é algo forte e delicado. Ser mulher é abundância e plenitude!
Quisera eu viver num mundo onde pudéssemos andar com os seios à mostra, enfeitados com flores... e tecidos transparentes, revelando nossas curvas honestas. E que isso não fosse considerado imoral! Que isso não fosse vulgar, e sim natural.
Pois ser mulher é algo naturalmente leve, belo e livre. Não há motivos para esconder nosso corpo. Não há motivos para se ter vergonha do nosso corpo.
Ser mulher é tanto! Ser mulher é valoroso! É vigoroso! É sensível ... tão sensível ...
Na verdade, não combina com o ser feminino criar bombas nucleares e exterminar os nossos pobres machos... O ser feminino saudável cria, e não destrói. O ser feminino ama. Simplesmente ama. Estaríamos indo contra nossa própria natureza se pensássemos em destruir algo.
Mas fomos tão oprimidas, machucadas, silenciadas, mutiladas, acuadas por tantos séculos de história... e até hoje!
Nosso feminino se revela muitas vezes furioso, frustrado, vingativo. E isso fere a nós mesmas. Isso nos leva a abismos profundos. Faz com que conheçamos a tristeza da alma. Isso nos torna cinzentas.
E os homens se sentem fortalecidos. Eles são tão inseguros que precisam que a mulher esteja abaixo deles para que se sintam bem! E isso é revoltante... e mais revoltante ainda quando nós aceitamos este lugar.

É... e se fizéssemos nossa greve geral? E nossas bombas atômicas? E se gritássemos? Se berrássemos? Seríamos ouvidas?
Se cada mulher despertasse e recobrasse a consciência de si mesma?
Talvez seja este o primeiro passo. Lembrar quem nós somos.
E há milhares de mulheres que desistiram de SER... e isso é muito triste.

Há um caminho. E nosso caminho é suave e firme. É um caminho que traz uma mudança profunda como as águas dos rios que esculpem grutas subterrâneas.
É hora de nos reconhecermos como mulheres.
Saber o que é ser mulher.
Saber o que merecemos.
Saber do que somos capazes.
E sermos coerentes em nossas atitudes.
Defendermos umas às outras e não mais lutarmos entre nós.
Só então poderemos situar os homens de como devem nos tratar.
De como devem nos tocar, inclusive sexualmente.
Que eles entendam que poder tocar nosso corpo é uma honra!
Que compartilhar o amor de uma mulher é uma honra!
É algo sublime e sagrado.
E que enganar, mentir, fingir que ama, abusar, explorar uma mulher é uma afronta contra a
natureza.
Ensinaremos a eles o respeito que devem ter por nós, a partir do respeito que nós mesmas
temos por nós.
E se alguma de nós precisar de ajuda, teremos força para auxiliá-la. Só poderemos ajudar a nos livrar dos nossos tiranos se reconhecermos que merecemos o melhor e nos apoiarmos.
Merecemos ser tratadas como rainhas em respeito, admiração, amor, cuidado, afeto,  dignidade, carinho... E não menos que isso! É a majestade do ser feminino!

E depois que fizermos nossa parte internamente, ajudaremos então às mulheres da família, e então nossas vizinhas e amigas. Então poderemos nos unir e ajudar nossa comunidade e as mulheres da nossa cidade, do nosso estado, país. E então de outros países. Uniremos nossas forças para libertar as mulheres massacradas em países tiranos contra o aspecto feminino da existência!
Libertaremos o mundo!!!
Chegou a hora de mudar a educação de nossos filhos e filhas. Ensiná-los a serem pessoas de verdade.
Ainda há muito por vir.
E quando começar, quando o sol nascer, ocorrerá uma transformação profunda...
Que a semente comece apenas sendo delicadamente plantada em mentes e corações e almas de homens e mulheres de todas as partes do mundo.

- que frutifique.

 Uma profunda mudança nos padrões de comportamento das pessoas em todo o planeta é urgente e cabe a nós mulheres darmos o primeiro passo.
E que seja um passo criativo.
Vamos cantar, compor, dançar, coreografar, atuar, dirigir, tocar, pintar, esculpir, escrever, bordar, tecer nossas histórias...
Adentrar no grande mistério sagrado do feminino.
Vamos libertar nossa mulher selvagem.
Vamos libertar nosso ser original.
Assim, libertaremos a força sagrada de Gaia.
Libertaremos a força da Terra.
A força do amor incondicional, a força da paz.
A força da imobilidade, do silêncio, da criação.
Libertaremos a força da vida.

E isso, só depende de nós.

fotógrafa: Duda Las Casas - espetáculo A Mulher que Cuspiu a Maçã




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